Em post anterior já havíamos compartilhado a felicidade da crônica de nosso
aluno Roberto da Costa, turma 801, ter sido selecionada na Categoria
"Memórias Literárias" como semifinalista na Olimpíada de Língua
Portuguesa Escrevendo o Futuro 2014.
Com mérito, Roberto e a professora de Língua Portuguesa Andressa
Siqueira estão participando do encontro presencial dos semifinalistas nesta
categoria, que ocorrerá entre os dias 3/11/2014 a 6/11/2014, na cidade de
Maceió, estado de Alagoas.
Estamos numa “super-torcida” para
próxima etapa!
Confira a crônica do Roberto:
“O lugar onde vivo”
Engarrafamentos,
barulhos, tecnologia, nada disso existia. Tempos dourados que não voltam mais.
Esses ficaram guardados na memória marcados no coração. A vida em minha cidade,
Cabo Frio, era tranquila e os dias pareciam render, se estendiam no tempo.
Naquele tempo, não havia energia, não havia água encanada. Lembro-me que
buscávamos água em um poço de pedra, próximo à lagoa feita pelos moradores. Não
havia carro, nem ônibus para ir a qualquer lugar. Andávamos pelas ruas de pedra
em meio a cidade em “preto e branco”, onde as casas eram feitas de barro,
construídas à mão e os lampiões iluminavam cada canto das casas.
No
inverno, era extremamente frio, para nos aquecer acendíamos o fogão à lenha,
que também esquentava a comida. Dormíamos todos juntos com nossos pais. Nessa
época, não podíamos fazer nada sozinhos, estávamos sempre acompanhados. Ainda
me lembro das mulheres de tamanco de madeira e de roupas feita de saco à mão e
depois tingida, era a moda do tempo, elas “desfilavam” nas praças do centro. As
praças não tinham calçamentos, os bancos eram pequenos e feitos de madeira,
havia muitas árvores e lindas flores, que davam um pouco de cor à vida e
estavam por todo lugar, em meio às casas.
Não me
esqueço dos momentos em que eu brincava de boneca, feitas de milho. Os fiapos
engraçados no topo era o cabelo, sempre enfeitado com muitos laços feitos de
papelão, o milho era o corpo e o sabugo era a roupa. Também brincava com meus irmãos, juntávamos
as crianças do bairro e começávamos a jogar queimado com uma bota de meia. Eu
queimava todo mundo! Brincávamos ainda de pega-pega, pique-esconde, eu me
escondia muito bem. Morávamos em frente a uma lagoa, adorávamos tomar banho por
lá e a brincar na areia. Ficávamos horas nessa diversão. Pulávamos os muros das casas vizinhas
para comer amêndoas, goiabas, mangas, fazíamos tudo junto. Eu e meus irmãos,
éramos muito unidos.
Nesse mesmo tempo, eu trabalhava nas salinas, embaixo de um sol quente,
era tudo branco a minha volta. A pesca fazia parte do meu cotidiano, a água da
lagoa era completamente transparente, onde víamos os peixes a nadar. Havia
tantos homens quanto mulheres a pescar, incluindo as crianças. Fazíamos tudo
isso para ajudar os nossos pais, pois a única comida que havia era peixe e
camarão, que comíamos em latas de marmelada.
Éramos muito pobres, porém felizes. Não
havia violência naquela época, podíamos sair sem medo, íamos ao centro a pé
pelas salinas, uma caminhada cansativa, mas era o único jeito de chegar lá.
Podíamos ir e voltar sem medo. Sim! Sempre livre, mas dentro da medida! A
obediência aos pais estava presente em todas as famílias, não podíamos ficar
até tarde na rua ou sairmos sozinhos de jeito nenhum.
Sinto muita falta daquele tempo, dos meus irmãos, que sempre me
acompanhavam nas brincadeiras, dos meus pais que sempre cuidavam de nós, às
vezes até deixavam de comer para alimentar toda a família. Sim, eram
guerreiros, que mesmo com muito pouco nos deram uma boa vida, uma vida feliz.
Sei que era difícil, dormíamos em esteiras, não tínhamos muito, mas eu agradeço
muito a eles, pois faziam o que podiam, não mediam esforços para nos dar uma
vida melhor.
Mas o
tempo vai passando, a gente vai crescendo e juntando tijolinhos. Pessoas
queridas se vão e viram lembranças, que ficam guardadas na mente e no coração,
afinal somos feitos de memórias.
Confira as fotos iniciais dessa viagem rumo ao conhecimento:
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