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segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Olimpíada de Língua Portuguesa - Memórias Literárias



Em post anterior já havíamos compartilhado a felicidade da crônica de nosso aluno Roberto da Costa, turma 801, ter sido selecionada na Categoria "Memórias Literárias" como semifinalista na Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro 2014.

Com mérito, Roberto e a professora de Língua Portuguesa Andressa Siqueira estão participando do encontro presencial dos semifinalistas nesta categoria, que ocorrerá entre os dias 3/11/2014 a 6/11/2014, na cidade de Maceió, estado de Alagoas.

Estamos numa “super-torcida” para  próxima etapa!

Confira a crônica do Roberto: 

“O lugar onde vivo”

          Engarrafamentos, barulhos, tecnologia, nada disso existia. Tempos dourados que não voltam mais. Esses ficaram guardados na memória marcados no coração. A vida em minha cidade, Cabo Frio, era tranquila e os dias pareciam render, se estendiam no tempo.
          Naquele tempo, não havia energia, não havia água encanada. Lembro-me que buscávamos água em um poço de pedra, próximo à lagoa feita pelos moradores. Não havia carro, nem ônibus para ir a qualquer lugar. Andávamos pelas ruas de pedra em meio a cidade em “preto e branco”, onde as casas eram feitas de barro, construídas à mão e os lampiões iluminavam cada canto das casas.
          No inverno, era extremamente frio, para nos aquecer acendíamos o fogão à lenha, que também esquentava a comida. Dormíamos todos juntos com nossos pais. Nessa época, não podíamos fazer nada sozinhos, estávamos sempre acompanhados. Ainda me lembro das mulheres de tamanco de madeira e de roupas feita de saco à mão e depois tingida, era a moda do tempo, elas “desfilavam” nas praças do centro. As praças não tinham calçamentos, os bancos eram pequenos e feitos de madeira, havia muitas árvores e lindas flores, que davam um pouco de cor à vida e estavam por todo lugar, em meio às casas.
          Não me esqueço dos momentos em que eu brincava de boneca, feitas de milho. Os fiapos engraçados no topo era o cabelo, sempre enfeitado com muitos laços feitos de papelão, o milho era o corpo e o sabugo era a roupa.  Também brincava com meus irmãos, juntávamos as crianças do bairro e começávamos a jogar queimado com uma bota de meia. Eu queimava todo mundo! Brincávamos ainda de pega-pega, pique-esconde, eu me escondia muito bem. Morávamos em frente a uma lagoa, adorávamos tomar banho por lá e a brincar na areia. Ficávamos horas nessa diversão.          Pulávamos os muros das casas vizinhas para comer amêndoas, goiabas, mangas, fazíamos tudo junto. Eu e meus irmãos, éramos muito unidos.
          Nesse mesmo tempo, eu trabalhava nas salinas, embaixo de um sol quente, era tudo branco a minha volta. A pesca fazia parte do meu cotidiano, a água da lagoa era completamente transparente, onde víamos os peixes a nadar. Havia tantos homens quanto mulheres a pescar, incluindo as crianças. Fazíamos tudo isso para ajudar os nossos pais, pois a única comida que havia era peixe e camarão, que comíamos em latas de marmelada.
          Éramos muito pobres, porém felizes. Não havia violência naquela época, podíamos sair sem medo, íamos ao centro a pé pelas salinas, uma caminhada cansativa, mas era o único jeito de chegar lá. Podíamos ir e voltar sem medo. Sim! Sempre livre, mas dentro da medida! A obediência aos pais estava presente em todas as famílias, não podíamos ficar até tarde na rua ou sairmos sozinhos de jeito nenhum.
          Sinto muita falta daquele tempo, dos meus irmãos, que sempre me acompanhavam nas brincadeiras, dos meus pais que sempre cuidavam de nós, às vezes até deixavam de comer para alimentar toda a família. Sim, eram guerreiros, que mesmo com muito pouco nos deram uma boa vida, uma vida feliz. Sei que era difícil, dormíamos em esteiras, não tínhamos muito, mas eu agradeço muito a eles, pois faziam o que podiam, não mediam esforços para nos dar uma vida melhor.
         Mas o tempo vai passando, a gente vai crescendo e juntando tijolinhos. Pessoas queridas se vão e viram lembranças, que ficam guardadas na mente e no coração, afinal somos feitos de memórias.

Confira as fotos iniciais dessa viagem rumo ao conhecimento:


 
 
 
 
 
 
 
 

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